segunda-feira, 7 de julho de 2008

Foi fim de semana de Colete Encarnado...


Sábado à noite no colete encarnado... Mulheres bonitas e castiças. Paquito chocolatero. Sopa de corno com fartura para os curiosos na garraiada. Rodrigo Pereira a cantar numa tertúlia. Boa prestação dos forcados de Vila Franca com as vaquinhas da madrugada. Já abaixo pus um fado sobre Vila-Franca no Fado Blanc! Hoje quem melhor que o mestre Manel de Almeida, no Fado Rambóia para nos trazer de volta o espírito do Colete Encarnado, num fado mais actual do que se possa pensar...


Fado Rambóia


Letra: Fernando Farinha

Música: Fado Rambóia


Aluguei um tipóia
Toda chique e enfeitada!
Agora vou para a rambóia,
Só venho de madrugada...
Quero ir a trajar bem
Para que toda a gente diga
Que novo mas também
Sei vestir á moda antiga!

Traz-me daí a guitarra
Dá-me a samarra o mazantilo
A minha cinta encarnada
A calça à boca de sino
Quero a Bota afiambrada
Bem engraxada para dar nas vistas
Mostrar à rapaziada
Que ainda existem fadistas!

Vê lá não quero chegar
A Vila-Franca atrasado
Hoje não posso deixar
De ver a espera de gado.
Quero ir à tarde à corrida
À noite a minha garganta
Há de mostrar de fugida
Como é que o fado se canta.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Ainda há amadores...Para manter a tradição!

Boa tarde ao meu caros leitores que a esta hora já nem se lembram de mim, mas a hora é de não ficar calado. Então não é que para além de termos que tolerar gente que só vive para insultar os aficionados da festa brava, ainda temos que assistir passivamente a que os órgãos de estado profiram decisões aberrante como aquela que decretou uma providência cautelar à transmissão da Corrida TV durante a tarde? É um ataque inadmissível à tradição e espero que ninguém se cale perante isto.

Numa televisão que passa sexo, sexo e mais sexo com morangos a todas as horas, violência, declarações obscenas de dirigentes desportivos, pedófilos e violadores, a tourada tem agora que ser transmitida depois da 22h00, em diferido e com bolinha vermelha ao canto do ecrã!!!

Se se deixam passar coisas destas em branco está-se a abrir um janela que pode escancarar uma porta...

Mas para ser positivo aqui fica uma fado taurino popularizado pelo grande.



Fado dos Saltimbancos

Letra: Isidoro de Oliveira
Música: Fado Corrido

Recordando meus senhores
Os tempos que já lá vão
Ainda há amadores
Para manter a tradição
Nada na vida os aterra
São alegre e são francos
E chama-lhe os Saltimbancos
Por andar de terra em terra

Não faltam a uma ferra
Em casa de lavradores
Nos retiros cantadores
Lá estão em dias de farra
Cantando ao som da guitarra
Recordando meus senhores

Na Arruda ou em Santarém
Na Chamusca ou no Cartaxo
O grupo não vai abaixo
Há de ficar sempre bem
Depois de jantar também
Agarram o seu pifão
Mas só com bom carrascão
Se deixam emborrachar
Em tudo fazem lembrar
Os tempos que já lá vão


Uns toureiam a cavalo
Outros a pé vão tourear
E nunca sai por pegar
Um touro posso afirmá-lo
Pois o grupo de quem falo
Marialvas, cantadores
Toureiros e pegadores
Ao pisar os redondéis
Não levam nem cinco réis
Pois ainda há amadores

E este lindo festival
Que viram nossos avós
Não morre ainda entre nós
Não morre em Portugal
Porque temos o Vidal
E mais o Chico Leão
O Zé Núncio e o João
O Prestes e o Xavier
E a companhia que houver
Para manter a tradição

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lisboa Antiga


Há muito que uma pessoa especial me pede esta canção... E que melhor fotografia para o ilustrar senão o elétrico que nos leva até Alfama...




Lisboa Antiga


Letra: José Galhardo, Amadeu do Vale, Raul Portela

Música: Fernando Faria, Arthur M. Reed


Lisboa, velha cidade,

Cheia de encanto e beleza!

Sempre a sorrir tão formosa,

E no vestir sempre airosa.

O branco véu da saudade Cobre o teu rosto linda princesa!


Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,

Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!

Das festas, das seculares procissões,

Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Fins do Século Passado (popularizado por Manuel de Almeida)




Letra: Carlos Conde
Música: José Marques (Fado Triplicado - de rima triplicada)


Fins do Século Passado
Estamos fora de portas
Vinho tinto canjirões
Uma mulher canta o fado
Anda alegria nas hortas
O amor nos corações

Entra um faia atira um dito
Logo outro faia presume
Que a mulher ri da piada
Um modo, um sorriso, um grito
Uma cena de ciúme
Resolvida à bofetada

Na mesa tosca de pinho
Fidalgos e boleeiros
Que sobre touros dão lei
Ouvem fado, bebem vinho
E falam sobre toureiros
Gado bravo e redondéis

Já vai alta a madrugada
Mas nisto chegam agora
Fadistas em traquitana
E enquanto se canta o fado
O alquilador namora
Os olhos de uma cigana

Fins do Século Passado
Faias, boémios, artistas
Aberturas de agua pé
Tempo em que o fado era fado!
O fadista mais fadista!
O amor mais Português!

Manuel de Almeida



Manuel de Almeida deixou-nos em 1995, mas mais do que isso deixou-nos um riquíssimo espólio no Fado. Confesso que nos tenros anos de vida que levo nunca tive oportunidade de ouvir este, que é um dos grande mestres, cantar. Mas do que ouvi em disco confesso que em poucos fadistas vi tanta raça e sentimento. Sentimento não nas palavras, mas em certas palavras... Há coisas que sabemos que ele está mesmo a sentir quando diz. A raiva e revolta contra o amor negado, as saudades que se vê claramente que sente. Quase que o conseguimos ver morder a língua e esbugalhar os olhos quando diz “Ai que saudades que eu tenho!!”. Regido em grande parte da sua obra pela cartilha do Marialva foi dos fadistas que mais belos amores cantou (sobretudo os impossíveis que a todos tocam à porta). A temática das antigas ramboiadas, as ceias nas hortas, as esperas de gado, os passeios em tipóia ou traquitana, as adegas de carriche ou a noites de fado regadas com canjirões de vinho. Um voz que não se cala nunca no espírito deste jovem blogue (Mais ainda quando eu aprender a pôr música nestas coisas!)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Vila Franca de Xira


Quando ainda faltam uns mesitos para o colete encarnado, (atenção que a temporada tauromáquica já começou com a Senhora da Candeias em Mourão!) fui a Vila Franca no Sábado e nada melhor que um fado castiço para ilustrar essa tarde bem passada. Espero por a autoria mais logo.

Vila Franca d´Antigamente

Ó terra de Vila Franca
Onde está o teu passado?
A romaria de Alcamé
E o teu colete encarnado?
A romaria de Alcamé
E o fandango bem dançado?

As vivas esperas de gado,
Janelas engalanadas,
As tuas noites de fado
E as castiças rambóiadas
As tuas noites de fado
Depois das grandes toiradas

E as tipóias enfeitadas
Com festão do mais garrido
São como jóias furtadas
Ao teu lindo colorido
São como jóias furtadas
Ao teu povo destemido

E tu muito tens querido
Manter esta tradição
Do campino teu preferido
De meia branca barrete e calção
Do campino teu preferido
Que sentes no coração

Ainda vives as emoção
Da tua castiça praça
E o mais alto galardão
Ao ver citar um toiro praça a praça
E o mais alto galardão
Com os teus forcados de raça!

segunda-feira, 3 de março de 2008

O Fado da Compilação



Até percebo e aceito que seja um produto muito popular entre os turistas que nos visitam em Portugal. Até percebo que seja uma forma de o grande público conhecer fadistas até então desconhecidos. Até percebo que seja a forma de alguns mais novos se lançarem entre outros grandes. Mas caramba... Há uma falta brutal de discos de autor na prateleiras das discotecas. Outro dia falava com um senhor que tem uma ali na Rua Augusta e que me disse: "Os que já morreram, tirando a Amália é para esquecer!". E é mesmo verdade! Onde é que se arranja um disco do Manuel de Almeida, do Vicente da Câmara, da Fernanda Mariaou outros que tais sem ser em compilações? E isto é mau para o Fado e para Portugal. Porque um dia os turistas vão-se interessar mais e já vão estar fartos das mesmas compilações, sempre com os mesmos reportórios e vão sentir, como nós sentimos, a necessidade e vontade de conhecer mais a fundo os seus fadistas preferidos e o seu trabalho compelto. Não apenas um ou dois laivos para amostra. A crise que vive o mercado discográfico em nada ajuda a tudo isto.


Meus senhores, confesso que gostava de ver na prateleiras mais objectividade no fado que é oferecido. Estou farto de tanta colectânea e compilação! Se é preciso agradar ao turista e ao curioso do fado também é preciso satisfazer a necessidade de recordar os grande do passado que infelizmente já não podemos ouvir cantar em casas de fado. Estão mortos! Não voltam mais.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Manuel dos Santos




Ontem, 17 de Fevereiro (Domingo), o programa Heranças D´Ouro, na RTP Memória foi dedicado a MANUEL DOS SANTOS, exímio Toureiro, para muitos o melhor Matador de Toiros Português de todos os tempos, que encheu praças, arrastou multidões, e foi figura pública destacada aqui e além fronteiras, tendo toureado pelo mundo fora (Portugal, Espanha, México, França, Colômbia, Venezuela, Equador, Angola, Moçambique, Macau, Indonésia, etc!) e chegado a ser, em 1950, com 93 corridas toureadas, o 1º no escalafon (a lista que é feita no mundo taurino, para os menos aficionados...) dos matadores com mais corridas toureadas em todo o mundo!!!
Para que os mais velhos relembrem outros tempos, em que a Festa Brava se equiparava em importância e seguidores, a futebois e afins, e para os mais novos, que não conheceram esta Época de Ouro da nossa Festa, .....OLE!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Versículo


Regressado de umas curtas férias, que serviram também para cumprir luto pela nefasta data que se assinalou no último dia em que lavrei uma posta nesta Taverna, regressam os fados à tasca cibernética. O prato do dia hoje é o Fado Versículo. Nem mais a propósito podia ser. Passámos grande parte da noite de Terça passado no Bota Alta à volta da magnífica composição do Fado Menor, cristalizada por Alfredo Marceneiro. A letra regada pelo licor de poejo que se ia bebendo foi a de Hélder Moutinho, que se reproduz em seguida. Por coincidência foi nesta semana que Carlos do Carmo ganhou o prémio Goya, graças ao Fado da Saudade que interpreta no filme Fados de Carlos Saura. Um imensa polémica tem agitado as hostes fadistas, já que a canção premiada mais não é que o Fado Versículo de Alfredo Marceneiro. Pode-se acompanhar tudo no site do Vitor Duarte Marceneiro aqui. Independentemente de achar muito negativo que Carlos do Carmo afirme que se trata do Fado Menor em geral (e por isso não necessitar de pagar direitos de autor) ocultando o que é óbvio para qualquer conhecedor de fado - trata-se do fado versículo – não perfilho a opinião de que o prémio não é merecido já que a interpretação é uma componente importantíssima do mesmo. De qualquer forma no Lisboa no Guiness podem acompanhar toda a polémica e deixar a vossa opinião.

O Que Trago o Que Trazes

Letra: Hélder Moutinho
Música: Alfredo Marceneiro (Fado Versículo)

Trago um gesto no olhar quando te vejo
E ternura no calor dos meus sentidos
O amor é como um beijo de sobejo
E as paixões são como sonhos proibidos

Trago toda a primavera em minha voz
E a saudade que há-de vir eu adivinho
A fogueira de paixão que existe em nós
Queima todas as tristezas do caminho

São meus versos os teus versos quando canto
São meus sonhos os teus sonhos nosso fado
Não há fumo, não há névoa, não há pranto
Nem tristezas para morrer no passado

O que trazes já não sei, não adivinho
Pode ser o mar inteiro, a tempestade
Pode ser uma saudade ou um carinho
Pode ser o grande amor da nossa idade

(Outros artistas gravaram versões desta letra, como Joana Amendoeira e João Chora).

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Portugal Foi-nos Roubado


Nestes tempos em que faltam dois dias para o centenário do Regicídio impõe-se deixar aqui registado o Fado que, a meu ver, melhor traduz o sentimento actual.

Portugal Foi-nos Roubado

Música: Popular
Letra: João Ferreira-Rosa


Portugal foi-nos roubado
Há que dizê-lo a cantar
Para isso nos serve o Fado
Para isso e para não chorar

5 de Outubro que treta
O que foi isso afinal
Dona Lisboa de Opereta
Muito chique por sinal

Sou português e por tal
Nunca fui republicano
O que eu quero é Portugal
Para desfazer o engano

Os heróis dos republicanos
Banqueiros, tropa, doutores
No estado em que ainda estamos
Só lhe devemos favores

Outubro, Maio e Abril
Cinco, dois oito, dois cinco
Reina a canalha mais vil
Neste pano verde e tinto

Sou português e por tal
Nunca fui republicano
O que eu quero é Portugal
Para desfazer o engano.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As Comemorações da República

(Gravura fantasiosa do início do século, não estariam na praça do município nem um décimo dos representados)

Perante o Decreto-Lei 17/2008, que hoje foi publicado em Diário da República e que cria a estrutura organizativas das Comemorações do Centenário da República, acho que vale a pena voltar a publicar um texto que escrevi a propósito de um certo 5 de Outubro. A verdade é que em tempo de crise, os que nos governam e nos pedem sacrifícios vão empenhar o dinheiro dos nossos impostos (sim porque para esta trampa não há fundos comunitários) a organizar exposições, concertos e festividades num programa de comemorações que vai 2010 a 2011.


Para insulto maior têm a lata de lançar estas comemorações numa altura em que alguns portugueses humildes e sem apoios do Estado assinalam a passagem dos 100 anos da morte de dois inocentes sacrificados no altar da pátria.


Concorde-se ou não com o 25 de Abril é a data legitimadora do regime que se vive hoje. É indiscutível que deve ser celebrado pois está na génese da forma como vivemos hoje, para o bem e para o mal. Outros prefeririam, talvez, que não houvesse tantos feriados "católicos" em Portugal. Contudo de todos os feriados existentes em Portugal nenhum é tão estúpido e desadequado como o 5 de Outubro e isso deveria ser um dado pacífico entre todos os portugueses democratas e conhecedores da história do seu país. Já deveria ter acabado há muito tempo.Embora vivamos em sistema republicano, monárquicos e republicanos concordarão certamente que a vilania que se realizou depois de 5 de Outubro de 1910 nada tem a ver com o país que temos hoje.O que nasceu em Portugal a partir desse dia foi a legitimação "de jure" de uma república que já o era "de facto" desde a vitória dos liberais no século XIX. Tal república é muitas vezes criticada pelo desnorte e falta de rumo que imprimiu ao país. As pessoas tendem a olhar para a Iª República como uma espécie de segundo governo de António Guterres. Nada mais ingénuo... O problema foi mais grave.Os republicanos tinham de facto um primeiro objectivo que se esgotava facilmente. Esse não era outro senão matar a monarquia. A tarefa foi facilitada pelos sucessivos anos de liberalismo e destruição de todas as estruturas do antigo regime, sobretudo da Igreja. Um belo dia o destino de milhões de portugueses, espalhados por 3 continentes, foi mudado por meia dúzia de radicais de esquerda entre a Avenida da Liberdade e a Praça do Município. Instaurou-se em Portugal a mais sanguinária e tirânica ditadura jamais existente. Sete anos antes da Rússia, Portugal foi o primeiro país da Europa a ser governado pela esquerda radical, firmada num gigantesco e complexo organismo chamado Partido Republicano Português, chefiado pelo sinistro Afonso Costa. Onde o Estado Novo teve presos políticos, a Iª República teve esquadrões de morte para os opositores. Onde o Estado Novo teve censura, a Iª República teve jornais fechados por decreto arbitrário. Onde o Estado Novo lutou para defender a soberania em África, a Iª República mandou lutar para África, no massacre da Flandres e ainda lhes cuspiu em cima quando voltaram. Onde o Estado Novo ilegalizou o comunismo, a Iª República roubou tudo o que pôde à Igreja Católica.A máquina gigantesca, violenta e poderosa do PRP apropriou-se do Estado. Ninguém ia ao Estado senão por ele. Tão brutal foi esta ditadura que as pessoas não a puderam suportar mais que 15 anos. Caiu odiada e sem deixar saudades a ninguém.É a implantação deste regime que vamos celebrar mais um vez dentro de dois dias... Festeje-se a República. Nada a opor. É o regime em que vivemos. Mas porquê o maldito 5 de Outubro?


Voltarei a este tema seguidamente...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Cavalos

Um dos ícones da mitologia fadista, sobretudo ao nível do que se chama de maneira comum o “fado aristocrático” e do fado marialva é o Cavalo Alazão. É-lhe dedicado um fado denominado precisamente “Cavalo Alazão”, que foi popularizado por Carlos Guedes de Amorim ou pelo forcado montemorense Carlos Pegado, numa letra de Maria Manuel Cid e música de Alfredo Marceneiro. O cavalo alazão é ainda referido no fado “Deixaste a vida de outrora” (também uma letra de Maria Manuel Cid) na voz de Teresa Tarouca “De maneira dona airosa/com que montavas pimpão/essa faquinha nervosa/o teu cavalo alazão”. Mais uma jovem fadista montemorense, Inês Vila Lobos se enamorou na garupa do cavalo alazão, senão vejamos, “E à garupa de alazão/o teu corpo ao meu unir.../o teu cavalo julgava/que só te levava a ti. Por outro lado o mestre do fado jocoso Manel Marçal tem cantado ocasionalmente uma versão decadente do dito bicho. Numa letra de Paulo Valente “O meu cavalo coirão, é orgulhoso talvez, mas é coxo de uma mão e manco das outras três...”

Em termos de popularidade é difícil dizer quem será mais famoso, se este Alazão ou o seu maior rival que é sem dúvida o Cavalo Ruço, de Nuno da Câmara Pereira. Vejamos... Câmara Pereira defende que era o cavalo mais lindo do Ribatejo enquanto que Maria Manuel Cid defende que o Alazão era orgulhoso do seu porte e linhagem, Alter de real nobreza com orgulho no seu brazão. Enquanto que o Cavalo Ruço todos sabemos ser filho de uma capona bravia...

Ao nível económico vê-se que o Cavalo Alazão é mais show-off que outra coisa. Na feira de Vale Cavalos ganha-se meia dúzia de galináceos com ele e já é um pau. Já o Cavalo Ruço era bom a tourear, a caçar, a derribar, a caçar, concursos de saltos etc...

Em estilo a competição é mais renhida. Se o Alazão trota largo com espavento e tem genica a galopar, enquanto o Ruço saltava que era um primor, era manso e tudo fazia com graça.

Fica ao leitores a decisão, mas sempre sabendo que se optarem pelo Cavalo Ruço é melhor não o aproximarem muito dos toiros.

Menos conhecido o Cavalo Lusitano interpretado por Manuel da Câmara Nobre raça portuguesa. Mas mesmo assim julguem por vocês. Acho que também tem valor. Ah já só faltam 10 meses para a Golegã...

"Leva os toiros ao engano,Salta com rara beleza.Na alta escola ele é jóia,Doce aura a galoparE engatado a uma tipóia Aos fados me quer levar.Dá-me prazer,Pouco antes de o montar,Carícias poder fazer,Que parecem lhe agradar.E quando a passoRelincha de alegria,Cada passo dá compassoÀ mais bela melodia.Vai comigo ao S. Martinho,À feira de Santarém.Nessas légua de caminhoÉ feliz como ninguém.E no campo, em liberdade,Seu prazer é mais profundo.Ser um Veiga ou ser AndradeÉ o melhor que há no mundoDá-me prazer Pouco antes de o montar,Carícias poder fazerQue parecem lhe agradar.E quando a passoRelincha de alegria,Cada passo dá compassoÀ mais bela melodia"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Alentejo

E isto dos regressos ao Alentejo tem que se lhe diga. Dá vontade de cantar o Vianinha com esta letra do meu amigo Domingos Xavier, celebrizada pelo Francisco Sobral.

Meu Alentejo Doirado

Música: Fado Vianinha
Letra: Domingos da Costa Xavier

Meu Alentejo doirado
Dessas searas sem fim
Fui aqui nado e criado
Tudo faz parte de mim

Amo a vida do sequeiro
O ver o trigo a crescer
O que digo é verdadeiro
Foi uma graça aqui nascer

Meu Alentejo doirado
Dos azinhais e sobreiros
E dos rebanhos de gado
Que vão beber ao ribeiro

Meu Alentejo doirado
Dessas searas sem fim
Fui aqui nado e criado
Tudo faz parte de mim.

Um Sábado à noite


Tive duas gratas surpresas este fim de semana. Sem saber entrei em Évora num Bota Alta a abarrotar de gente, este Sábado, e foi com muito prazer que conhecei aquele que considero um dos melhores fadistas da actualidade. Pedro Moutinho de seu nome. Não só é um destacado fadista de uma casa onde todos cantam (o irmão Camané, o Hélder Moutinho e os pais que são dois castiços da velha guarda), como é uma pessoa simpatiquíssima, com quem podemos falar de Fado uma noite inteira. Para felicidade de todos os eborenses que gostam de Fado vamos tê-lo, daqui para a frente, duas vezes por mês no Bota Alta, casa onde se iniciou o meu grande amigo Duarte que podemos ouvir todas as terças e sextas. A outra surpresa da noite foi a Rita Ribeiro que coloriu ainda mais um noite de inesperada fadistice e bom vinho. A minha querida Ti Esperança tem todo o mérito de, tendo voltado costas a Lisboa, ter fundado um local de referência nas noites alentejanas. E tudo isto sozinha, o que já não é pouca coisa...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Como é que nos deixamos chegar a este ponto?


O que aqueles filhos de um grandessíssima puta que nos governam na Europa e em Portugal nos fazem é muito fácil de fazer e qualquer aspirante a ditadorzeco de bolso o faria se governasse a carneirada em que todos nós nos tornámos.

Desde que se inventou a democracia que todos sabemos comprar gato por lebre cada vez que pomos o voto na urna. Mas uma coisa é prometer que se vai construir isto ou reformar aquilo e ao abrir os “dossiers” verificar-se que não há verba ou que a situação é muito mais complexa do que se pensava e portanto a solução levará vários anos. Um exemplo claro da primeira temo-lo quando um Presidente de Câmara promete fazer esta ou aquela infra-estrutura, seja um estádio ou uma estrada para uma aldeia e depois não arranja verbas. Já na segunda o melhor exemplo é o que se passa com a Educação em Portugal. Tudo isto é uma safadice de primeira, mas compreensível e de certa forma com justificação.

O que o mentiroso do Primeiro-Ministro acaba de fazer em relação ao referendo do Tratado da Treta que a Europa nos impõe não se enquadra em nenhuma das anteriores categorias. Enquadra-se na maior falta de carácter e vergonha na cara que um governante alguma vez teve em Portugal! Nada... Mas absolutamente nada o impede de fazer uma consulta à excepção do facto de ser um caniche dos parceiros europeus que lhe deram este ossinho de conspurcar o santo nome de Lisboa nesse infame tratado para o calar. Pensar e debater este tratado, que é exactamente a mesma porcaria que o anterior, é fundamental em termos políticos. Infelizmente não o é em termos constitucionais.

O que nos leva ao fundamental deste texto. Caro leitor, será que temos mesmo que comer com isto tudo calados? Nunca se esqueçam que se tivéssemos todos calados tinha-se feito a negociata da OTA, sem tugirmos nem mugirmos. Felizmente houve homens de coragem que souberam bater o pé.

Vamos continuar a tolerar que professores que digam coisas bem menos graves das que estou a escrever aqui, sejam punidos disciplinarmente. Vamos continuar a admitir a perseguição aos funcionários públicos que não abaixam as orelhas? Vamos continuar a fornecer os nossos dados pessoais a torto e a direito ao Estado sob a capa de um suposto choque tecnológico? Vamos continuar a ter aturar o suínos que governam a Venezuela e a Líbia a pisar o chão da nossa terra? Vamos aturar por mais quanto tempo os mini-fascistas ignorantes da ASAE a quererem mandar e mudar o nosso modo de vida?

Caramba! Escrevam! Protestem. Basta enviar um email! Tantas petições podem circular! Fazem-se manifestações pelas coisas mais estúpidas neste país não poderá fazer uma a dizer basta.

A apatia é a única aliada do Governo! Como é que o nosso povo se deixa chegar a este ponto?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lei do Tabaco



Triste por já não se poder fumar na Adega do Bota Alta e enquanto a ERC não proíbe a fotografia que aqui se posta, dei comigo a ler a lei do tabaco e eis que me deparo com um texto do mais verdadeiro que há!

Logo no artigo 1º se escreve que "é proibido fumar":

Alínea a) Nos órgãos de soberania e organismos da Administração Pública;

Alínea b) Nos locais de trabalho.

De facto são coisas bem diferentes... Em alguma coisa esta lei havia de ter razão...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Cavaleiros




“Portugal... a cavalo picou toiros,
a cavalo venceu moiros,
foi destemido e pimpão”

Assim canta D. Vicente da Câmara no célebre Fado Marialva, mas a fiarmo-nos nas más notícias que recebemos este fim de semana, cada vez menos se faz jus ao poema. Deixámos os fanáticos e os extremistas ganhar. Mas o maior inimigo que nos venceu este fim de semana foi o medo. E essa é a maior vitória dos fanáticos. Que deixemos de viver a vida que sempre vivemos e pela qual queremos continuar a lutar. Não saíram os portugueses para o Dakar, a cavalo nos cavalos de aço a vencer os desertos dos Mouros... Paciência... Temos sempre as estrofes do “Calça justa a preceito, bem mais adequados para os dias que correm.

“A lusa cavalaria
Batalhou e venceu moiros
Mas na verdade hoje em dia
Com nostalgia restam-lhe os toiros...”

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Janeiras


Em vésperas do dia de reis dei por mim aqui na tasca a pensar há quanto tempo não saio a cantar as Janeiras. É verdade, nos serões da província ainda há que o faça e que noites bem rematadas passei nessa terra de Cogominhos de canjirão com a banza ao lado! A tradição não morreu mas o que será de meus filhos se quiserem mantê-la nesta Lisboa moderna.

Na verdade, a modernidade ameaça quase sempre a tradição. Quem se dará ao trabalho de ir tocar e cantar por um chouriço e dois copos de tinto quando tem uma Loja 24 horas? Na sociedade asséptica para onde caminhamos não convém deixar sair os meninos porque “faz muito frio e a gripe não está para brincadeiras” dizem outros. Divirto-me também a pensar como será possível ir cantar a Janeiras a um condomínio fechado, vigiado, com segurança 24 horas. O mais provável seria os pobres jograis terem um carro patrulha a fazer perguntas. E como ir de um condomínio para outro, percorrendo medonhos viadutos e muralhas de betão que sufocam esta cidade. Haverá confiança no mundo para abrir o postigo da porta a estranhos que vêm somente cantar a adoração do menino?

Já poucos querem saber das Janeiras hoje em dia... O corrector ortográfico do Word nem me aceitou a palavra “jograis” lá atrás... Mas elas estão no corpus e no animus da tradição portuguesa e mantê-las é não nos esquecermos de nós. Quem me dera Portugal.

Ouvi cantar as Janeiras



Ouvi cantar as Janeiras
Em terras de Portugal
Vi milho-rei desfolhado
Fados tristes por meu mal...

Ouvi cantar as Janeiras
No meio do Olival
Bacalhau por cima azeite
Vinho tinto... Bom Natal!

Ouvi cantar as Janeiras
Mais tristes, triste sinal
Nos anos que vão correndo
Somente esperança afinal
Ouvi cantar as janeiras
Quem me dera Portugal...

Letra: João Ferreira-Rosa
Música: Popular

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Cigarrilha

Quem me conheça sabe bem que não tenho a menor simpatia pelos fascistaszecos higiénicos da ASAE nem pelos regulamentos que dizem cumprir, mas parece-me que estar a pegar nesta história da cigarrada do chefe da quadrilha no casino é ser uma bocado como eles... ou não?

Velhinho



Nesta manhã de chuva, o fadista já velhinho do fado anterior pôs-me a pensar. Será que há ainda súbditos de D. Carlos vivos neste novo ano de 2008? Tenho praticamente a certeza que há pessoas com mais de cem anos. Mas será que alguma recorda nitidamente esses dias de tumulto e agitação que se seguiram ao regicídio? Quando João Ferreira-Rosa escreveu esta letra teria, segundo o próprio cerca de 18 anos (portanto 1955). Faziam na altura todo o sentido as palavras "... de novo poder ver...". Hoje ninguém tem uma memória viva e presente dos dias da instituição real.


Não obstante, isso não é de todo uma tragédia. Primeiro porque tal como ninguém tem uma memória viva desses dias, também ninguém tem já a animosidade jacobina e republicana que levou à queda da monarquia. Ainda que os netos desses republicanos ainda andem por aí a militar a sua ética republicana, todos os grandes ódios da esquerda se canalizam para os despojos dos regimes autoritários do século XX. O que não quer dizer que a instituição real não seja marginalmente metida num mesmo saco. Mas isso deriva da ignorânia e do maníqueismo.
A verdade é que ao matarem o Rei fizeram dele um mártir e por isso não de atreveram a insultar mais o povo mudando o nome da rua que vai do Parlamento de Sâo Bento até ao Tejo.

Ainda haverá mais fadistas velhinhos com saudades, mas desta vez saudades do futuro, em que o Rei-povo desaparecido possa dar um novo fôlego à pátria que precisa dele mais do que nunca. E se eu não ensandecer e conseguir chegar à idade deste velhinho correeiro do Lumiar ainda haverá nesse dia velhinhos a chorar de olhos semi-cerrados lembrando os tempos que lá vão.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Fadista velhinho

Um fadista já velhinho
Muito triste coitadinho
Contou-me quase a chorar
As saudades do passado
Em que ele cantava o fado
Que todos queriam escutar

Contou-me então como era
As noitadas que fizera
Fadistas e cavaleiros
Um alegre São Martinho
Nos retiros com bom vinho
E o calor dos fogareiros

De olhos semi-cerrados
Baixinho lembrou os fados
Sua tristeza aumentou
Mas parando de repente
Olhando-me bem de frente
Com voz mais firme afirmou

A minha grande tristeza
Não me é dada pela pobreza
Nem lembranças que contei
É o medo de morrer
Sem de novo poder ver
Portugal ter o seu rei.

Letra: João Ferreira-Rosa
Música: Marcha de Alfredo Marceneiro

Abertura

No dia que ontem passou encetámos mais um ano da graça, desta feita, de 2008. No dia que passa ficámos a um mês de distância da triste e infame efeméride que cumpre agora 100 anos. Falta um mês para que passem cem anos do dia em que mataram o Rei e o príncipe. Em ponto nenhum deste país ou deste mundo devem os homens bons e amantes da Justiça deixar de chorar e velar o sangue inocente derramado nesse dia, o horror da mãe que vê o filho morrer nos braços, do desespero de com um ramo de flores tentar corajosamente vencer a boca das armas de fogo que lhe levavam a família. O Portugal de que eu gostava morreu mais um pouco nesse dia. Ainda que nunca o tenha vivido tenho saudades dele.