sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Janeiras


Em vésperas do dia de reis dei por mim aqui na tasca a pensar há quanto tempo não saio a cantar as Janeiras. É verdade, nos serões da província ainda há que o faça e que noites bem rematadas passei nessa terra de Cogominhos de canjirão com a banza ao lado! A tradição não morreu mas o que será de meus filhos se quiserem mantê-la nesta Lisboa moderna.

Na verdade, a modernidade ameaça quase sempre a tradição. Quem se dará ao trabalho de ir tocar e cantar por um chouriço e dois copos de tinto quando tem uma Loja 24 horas? Na sociedade asséptica para onde caminhamos não convém deixar sair os meninos porque “faz muito frio e a gripe não está para brincadeiras” dizem outros. Divirto-me também a pensar como será possível ir cantar a Janeiras a um condomínio fechado, vigiado, com segurança 24 horas. O mais provável seria os pobres jograis terem um carro patrulha a fazer perguntas. E como ir de um condomínio para outro, percorrendo medonhos viadutos e muralhas de betão que sufocam esta cidade. Haverá confiança no mundo para abrir o postigo da porta a estranhos que vêm somente cantar a adoração do menino?

Já poucos querem saber das Janeiras hoje em dia... O corrector ortográfico do Word nem me aceitou a palavra “jograis” lá atrás... Mas elas estão no corpus e no animus da tradição portuguesa e mantê-las é não nos esquecermos de nós. Quem me dera Portugal.

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