terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As Comemorações da República

(Gravura fantasiosa do início do século, não estariam na praça do município nem um décimo dos representados)

Perante o Decreto-Lei 17/2008, que hoje foi publicado em Diário da República e que cria a estrutura organizativas das Comemorações do Centenário da República, acho que vale a pena voltar a publicar um texto que escrevi a propósito de um certo 5 de Outubro. A verdade é que em tempo de crise, os que nos governam e nos pedem sacrifícios vão empenhar o dinheiro dos nossos impostos (sim porque para esta trampa não há fundos comunitários) a organizar exposições, concertos e festividades num programa de comemorações que vai 2010 a 2011.


Para insulto maior têm a lata de lançar estas comemorações numa altura em que alguns portugueses humildes e sem apoios do Estado assinalam a passagem dos 100 anos da morte de dois inocentes sacrificados no altar da pátria.


Concorde-se ou não com o 25 de Abril é a data legitimadora do regime que se vive hoje. É indiscutível que deve ser celebrado pois está na génese da forma como vivemos hoje, para o bem e para o mal. Outros prefeririam, talvez, que não houvesse tantos feriados "católicos" em Portugal. Contudo de todos os feriados existentes em Portugal nenhum é tão estúpido e desadequado como o 5 de Outubro e isso deveria ser um dado pacífico entre todos os portugueses democratas e conhecedores da história do seu país. Já deveria ter acabado há muito tempo.Embora vivamos em sistema republicano, monárquicos e republicanos concordarão certamente que a vilania que se realizou depois de 5 de Outubro de 1910 nada tem a ver com o país que temos hoje.O que nasceu em Portugal a partir desse dia foi a legitimação "de jure" de uma república que já o era "de facto" desde a vitória dos liberais no século XIX. Tal república é muitas vezes criticada pelo desnorte e falta de rumo que imprimiu ao país. As pessoas tendem a olhar para a Iª República como uma espécie de segundo governo de António Guterres. Nada mais ingénuo... O problema foi mais grave.Os republicanos tinham de facto um primeiro objectivo que se esgotava facilmente. Esse não era outro senão matar a monarquia. A tarefa foi facilitada pelos sucessivos anos de liberalismo e destruição de todas as estruturas do antigo regime, sobretudo da Igreja. Um belo dia o destino de milhões de portugueses, espalhados por 3 continentes, foi mudado por meia dúzia de radicais de esquerda entre a Avenida da Liberdade e a Praça do Município. Instaurou-se em Portugal a mais sanguinária e tirânica ditadura jamais existente. Sete anos antes da Rússia, Portugal foi o primeiro país da Europa a ser governado pela esquerda radical, firmada num gigantesco e complexo organismo chamado Partido Republicano Português, chefiado pelo sinistro Afonso Costa. Onde o Estado Novo teve presos políticos, a Iª República teve esquadrões de morte para os opositores. Onde o Estado Novo teve censura, a Iª República teve jornais fechados por decreto arbitrário. Onde o Estado Novo lutou para defender a soberania em África, a Iª República mandou lutar para África, no massacre da Flandres e ainda lhes cuspiu em cima quando voltaram. Onde o Estado Novo ilegalizou o comunismo, a Iª República roubou tudo o que pôde à Igreja Católica.A máquina gigantesca, violenta e poderosa do PRP apropriou-se do Estado. Ninguém ia ao Estado senão por ele. Tão brutal foi esta ditadura que as pessoas não a puderam suportar mais que 15 anos. Caiu odiada e sem deixar saudades a ninguém.É a implantação deste regime que vamos celebrar mais um vez dentro de dois dias... Festeje-se a República. Nada a opor. É o regime em que vivemos. Mas porquê o maldito 5 de Outubro?


Voltarei a este tema seguidamente...

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