quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Velhinho



Nesta manhã de chuva, o fadista já velhinho do fado anterior pôs-me a pensar. Será que há ainda súbditos de D. Carlos vivos neste novo ano de 2008? Tenho praticamente a certeza que há pessoas com mais de cem anos. Mas será que alguma recorda nitidamente esses dias de tumulto e agitação que se seguiram ao regicídio? Quando João Ferreira-Rosa escreveu esta letra teria, segundo o próprio cerca de 18 anos (portanto 1955). Faziam na altura todo o sentido as palavras "... de novo poder ver...". Hoje ninguém tem uma memória viva e presente dos dias da instituição real.


Não obstante, isso não é de todo uma tragédia. Primeiro porque tal como ninguém tem uma memória viva desses dias, também ninguém tem já a animosidade jacobina e republicana que levou à queda da monarquia. Ainda que os netos desses republicanos ainda andem por aí a militar a sua ética republicana, todos os grandes ódios da esquerda se canalizam para os despojos dos regimes autoritários do século XX. O que não quer dizer que a instituição real não seja marginalmente metida num mesmo saco. Mas isso deriva da ignorânia e do maníqueismo.
A verdade é que ao matarem o Rei fizeram dele um mártir e por isso não de atreveram a insultar mais o povo mudando o nome da rua que vai do Parlamento de Sâo Bento até ao Tejo.

Ainda haverá mais fadistas velhinhos com saudades, mas desta vez saudades do futuro, em que o Rei-povo desaparecido possa dar um novo fôlego à pátria que precisa dele mais do que nunca. E se eu não ensandecer e conseguir chegar à idade deste velhinho correeiro do Lumiar ainda haverá nesse dia velhinhos a chorar de olhos semi-cerrados lembrando os tempos que lá vão.


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