segunda-feira, 7 de julho de 2008

Foi fim de semana de Colete Encarnado...


Sábado à noite no colete encarnado... Mulheres bonitas e castiças. Paquito chocolatero. Sopa de corno com fartura para os curiosos na garraiada. Rodrigo Pereira a cantar numa tertúlia. Boa prestação dos forcados de Vila Franca com as vaquinhas da madrugada. Já abaixo pus um fado sobre Vila-Franca no Fado Blanc! Hoje quem melhor que o mestre Manel de Almeida, no Fado Rambóia para nos trazer de volta o espírito do Colete Encarnado, num fado mais actual do que se possa pensar...


Fado Rambóia


Letra: Fernando Farinha

Música: Fado Rambóia


Aluguei um tipóia
Toda chique e enfeitada!
Agora vou para a rambóia,
Só venho de madrugada...
Quero ir a trajar bem
Para que toda a gente diga
Que novo mas também
Sei vestir á moda antiga!

Traz-me daí a guitarra
Dá-me a samarra o mazantilo
A minha cinta encarnada
A calça à boca de sino
Quero a Bota afiambrada
Bem engraxada para dar nas vistas
Mostrar à rapaziada
Que ainda existem fadistas!

Vê lá não quero chegar
A Vila-Franca atrasado
Hoje não posso deixar
De ver a espera de gado.
Quero ir à tarde à corrida
À noite a minha garganta
Há de mostrar de fugida
Como é que o fado se canta.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Ainda há amadores...Para manter a tradição!

Boa tarde ao meu caros leitores que a esta hora já nem se lembram de mim, mas a hora é de não ficar calado. Então não é que para além de termos que tolerar gente que só vive para insultar os aficionados da festa brava, ainda temos que assistir passivamente a que os órgãos de estado profiram decisões aberrante como aquela que decretou uma providência cautelar à transmissão da Corrida TV durante a tarde? É um ataque inadmissível à tradição e espero que ninguém se cale perante isto.

Numa televisão que passa sexo, sexo e mais sexo com morangos a todas as horas, violência, declarações obscenas de dirigentes desportivos, pedófilos e violadores, a tourada tem agora que ser transmitida depois da 22h00, em diferido e com bolinha vermelha ao canto do ecrã!!!

Se se deixam passar coisas destas em branco está-se a abrir um janela que pode escancarar uma porta...

Mas para ser positivo aqui fica uma fado taurino popularizado pelo grande.



Fado dos Saltimbancos

Letra: Isidoro de Oliveira
Música: Fado Corrido

Recordando meus senhores
Os tempos que já lá vão
Ainda há amadores
Para manter a tradição
Nada na vida os aterra
São alegre e são francos
E chama-lhe os Saltimbancos
Por andar de terra em terra

Não faltam a uma ferra
Em casa de lavradores
Nos retiros cantadores
Lá estão em dias de farra
Cantando ao som da guitarra
Recordando meus senhores

Na Arruda ou em Santarém
Na Chamusca ou no Cartaxo
O grupo não vai abaixo
Há de ficar sempre bem
Depois de jantar também
Agarram o seu pifão
Mas só com bom carrascão
Se deixam emborrachar
Em tudo fazem lembrar
Os tempos que já lá vão


Uns toureiam a cavalo
Outros a pé vão tourear
E nunca sai por pegar
Um touro posso afirmá-lo
Pois o grupo de quem falo
Marialvas, cantadores
Toureiros e pegadores
Ao pisar os redondéis
Não levam nem cinco réis
Pois ainda há amadores

E este lindo festival
Que viram nossos avós
Não morre ainda entre nós
Não morre em Portugal
Porque temos o Vidal
E mais o Chico Leão
O Zé Núncio e o João
O Prestes e o Xavier
E a companhia que houver
Para manter a tradição

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lisboa Antiga


Há muito que uma pessoa especial me pede esta canção... E que melhor fotografia para o ilustrar senão o elétrico que nos leva até Alfama...




Lisboa Antiga


Letra: José Galhardo, Amadeu do Vale, Raul Portela

Música: Fernando Faria, Arthur M. Reed


Lisboa, velha cidade,

Cheia de encanto e beleza!

Sempre a sorrir tão formosa,

E no vestir sempre airosa.

O branco véu da saudade Cobre o teu rosto linda princesa!


Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,

Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!

Das festas, das seculares procissões,

Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Fins do Século Passado (popularizado por Manuel de Almeida)




Letra: Carlos Conde
Música: José Marques (Fado Triplicado - de rima triplicada)


Fins do Século Passado
Estamos fora de portas
Vinho tinto canjirões
Uma mulher canta o fado
Anda alegria nas hortas
O amor nos corações

Entra um faia atira um dito
Logo outro faia presume
Que a mulher ri da piada
Um modo, um sorriso, um grito
Uma cena de ciúme
Resolvida à bofetada

Na mesa tosca de pinho
Fidalgos e boleeiros
Que sobre touros dão lei
Ouvem fado, bebem vinho
E falam sobre toureiros
Gado bravo e redondéis

Já vai alta a madrugada
Mas nisto chegam agora
Fadistas em traquitana
E enquanto se canta o fado
O alquilador namora
Os olhos de uma cigana

Fins do Século Passado
Faias, boémios, artistas
Aberturas de agua pé
Tempo em que o fado era fado!
O fadista mais fadista!
O amor mais Português!

Manuel de Almeida



Manuel de Almeida deixou-nos em 1995, mas mais do que isso deixou-nos um riquíssimo espólio no Fado. Confesso que nos tenros anos de vida que levo nunca tive oportunidade de ouvir este, que é um dos grande mestres, cantar. Mas do que ouvi em disco confesso que em poucos fadistas vi tanta raça e sentimento. Sentimento não nas palavras, mas em certas palavras... Há coisas que sabemos que ele está mesmo a sentir quando diz. A raiva e revolta contra o amor negado, as saudades que se vê claramente que sente. Quase que o conseguimos ver morder a língua e esbugalhar os olhos quando diz “Ai que saudades que eu tenho!!”. Regido em grande parte da sua obra pela cartilha do Marialva foi dos fadistas que mais belos amores cantou (sobretudo os impossíveis que a todos tocam à porta). A temática das antigas ramboiadas, as ceias nas hortas, as esperas de gado, os passeios em tipóia ou traquitana, as adegas de carriche ou a noites de fado regadas com canjirões de vinho. Um voz que não se cala nunca no espírito deste jovem blogue (Mais ainda quando eu aprender a pôr música nestas coisas!)

quinta-feira, 6 de março de 2008

Vila Franca de Xira


Quando ainda faltam uns mesitos para o colete encarnado, (atenção que a temporada tauromáquica já começou com a Senhora da Candeias em Mourão!) fui a Vila Franca no Sábado e nada melhor que um fado castiço para ilustrar essa tarde bem passada. Espero por a autoria mais logo.

Vila Franca d´Antigamente

Ó terra de Vila Franca
Onde está o teu passado?
A romaria de Alcamé
E o teu colete encarnado?
A romaria de Alcamé
E o fandango bem dançado?

As vivas esperas de gado,
Janelas engalanadas,
As tuas noites de fado
E as castiças rambóiadas
As tuas noites de fado
Depois das grandes toiradas

E as tipóias enfeitadas
Com festão do mais garrido
São como jóias furtadas
Ao teu lindo colorido
São como jóias furtadas
Ao teu povo destemido

E tu muito tens querido
Manter esta tradição
Do campino teu preferido
De meia branca barrete e calção
Do campino teu preferido
Que sentes no coração

Ainda vives as emoção
Da tua castiça praça
E o mais alto galardão
Ao ver citar um toiro praça a praça
E o mais alto galardão
Com os teus forcados de raça!

segunda-feira, 3 de março de 2008

O Fado da Compilação



Até percebo e aceito que seja um produto muito popular entre os turistas que nos visitam em Portugal. Até percebo que seja uma forma de o grande público conhecer fadistas até então desconhecidos. Até percebo que seja a forma de alguns mais novos se lançarem entre outros grandes. Mas caramba... Há uma falta brutal de discos de autor na prateleiras das discotecas. Outro dia falava com um senhor que tem uma ali na Rua Augusta e que me disse: "Os que já morreram, tirando a Amália é para esquecer!". E é mesmo verdade! Onde é que se arranja um disco do Manuel de Almeida, do Vicente da Câmara, da Fernanda Mariaou outros que tais sem ser em compilações? E isto é mau para o Fado e para Portugal. Porque um dia os turistas vão-se interessar mais e já vão estar fartos das mesmas compilações, sempre com os mesmos reportórios e vão sentir, como nós sentimos, a necessidade e vontade de conhecer mais a fundo os seus fadistas preferidos e o seu trabalho compelto. Não apenas um ou dois laivos para amostra. A crise que vive o mercado discográfico em nada ajuda a tudo isto.


Meus senhores, confesso que gostava de ver na prateleiras mais objectividade no fado que é oferecido. Estou farto de tanta colectânea e compilação! Se é preciso agradar ao turista e ao curioso do fado também é preciso satisfazer a necessidade de recordar os grande do passado que infelizmente já não podemos ouvir cantar em casas de fado. Estão mortos! Não voltam mais.